Segunda-feira, 5 de Outubro de 2009
EXPERIMENTADESIGN09_PRIMEIRO PÉRIPLO E ALGUMAS ESCOLHAS


Muita coisa tem acontecido em Lisboa nos últimos tempos e não tenho tido oportunidade de acompanhar um terço. Assim, confrontada com o vasto programa da
ExperimentaDesign09 tive que fazer algumas escolhas pois o meu tempo livre não é muito nos dias que correm. Fui ver a exposição
Quick, Quick, Slow, Texto, Imagem e Tempo patente no Museu Colecção Berardo e achei interessante mas algo pedagógica. A exposição propõe um “olhar retrospectivo que se estende ao início do século XX” e “explora a dimensão do tempo no design gráfico, mapeando as influências e impactos recíprocos entre grafismo impresso e animado.
Quick, Quick, Slow: “explora o modo como os designers têm evocado a ideia e fluxo do tempo através de formas estáticas, do “look dinâmico” e das primeiras experiências modernistas com tipografia até às complexas sequências animadas concebidas para cinema e publicidade.” Uma mostra bastante boa para estudantes que estão a iniciar a sua licenciatura em artes visuais e design.



Nas conferências da
ExperimentaDesign09 fui ver a sessão que juntou
Peter Saville (GB) e
Michael Horsham dos
Tomato (GB) e as
Open Talks organizadas, respectivamente, por Paola Antonelli e Alice Rawsthorn. A apresentação de Paola Antonelli sobre o tema novas formas de design foi mesmo muito interessante mas é conhecido o meu apreço pela curadora do MoMa cuja obra tenho citado regularmente. Paola Antonelli “trouxe” à
ExperimentaDesign09 três personalidades bastante curiosas e geriu a sessão de forma animada, interessante e interdisciplinar. Assim, foi possível ouvir no espaço do mercado de Santa Clara em Lisboa
Kevin Slavin (US),
Neri Oxman (US) e
Oron Catts (AU). Neste contexto, saliento os curiosos projectos de Kevin Slavin para a
Area/Code, empresa fundada em 2005 e da qual é director, que cria jogos
cross-media que assentam “na transversalidade das tecnologias e dos
media para criar novos tipos de animação.” Nesta empresa foram criados “jogos de telemóvel com personagens invisíveis que se movem através de espaços reais, jogos on-line sincronizados com emissões televisivas em directo, como também videojogos onde tubarões virtuais são controlados por tubarões reais com receptores GPS agrafados às barbatanas. “Parking Wars”, o jogo que criaram para o
Facebook, teve mais de um bilhão de usuários [participantes] em 2008”.



Saliento ainda a apresentação de Neri Oxman: “designer e fundadora de
Materialecology, uma iniciativa interdisciplinar de design que leva a cabo uma investigação transversal à arquitectura, engenharia, computação, biologia e ecologia. É frequente Neri inspirar-se na natureza para encontrar respostas práticas de design. O seu trabalho incorpora princípios de biomimetismo e objectos produzidos, levando as ideias e projectos desenvolvidos para além dos limites da imaginação.” Finalmente, a apresentação de
Oron Catts foi mais contida e o director da
SymbioticA acabou por ser o mais convencional do painel, talvez por ser também o mais conhecido.
Em geral as ideias apresentadas nesta excelente sessão apontam para a necessidade de se quebrarem algumas fronteiras, nomeadamente entre arte e design, design e engenharia, engenharia e arquitectura, entre outras possibilidades. Apontou-se para a urgência de se começar a pensar num conceito de design que tenha em consideração a criação de problemas e não apenas a resolução destes. Ficou evidente, neste painel, uma crítica à falta de capacidade dos
media interpretarem os projectos de design contemporâneo (bem evidente em algumas críticas que li sobre a
ExperimentaDesign09 nos jornais portugueses que parecem confundir e baralhar tudo) e a incapacidade de se pensar em design como um território artístico, onde se processam experiências e reflexões próprias de outros campos. O design como decoração de artefactos industriais, que se constitui como disciplina para dar resposta à revolução industrial e aos ideais do modernismo, dá lugar, nos nossos dias, a um campo de experimentação com a própria natureza, a biologia e a identidade. O design abre-se à teoria dos
media, à reflexão da pós-modernidade, e assenta na diversidade da experiência. O design experiencial, conceito introduzido pelos
media interactivos para dar conta dos participantes dos sistemas digitais, preocupa-se mais com a reflexão sobre a experiência imaterial do que com a criação de objectos. A trilogia tipografia, composição e cor dá lugar a aspectos já não apenas centrados na percepção mas também na acção humana. Neste sentido, é hoje evidente que se confrontam dualidades e distinções antigas, formalizadas por uma escola modernista que parece nunca ter realmente compreendido o programa da Bauhaus. Assim, se pensam novas plasticidades orgânicas e sustentáveis e se olha para as formas naturais à procura de inspiração. Surgem, neste contexto, novas construções narrativas e as diversas disciplinas pressupõem saberes holísticos e integrados, o design abre-se à participação e à autoria colaborativa e partilhada. Penso que passou por ali tudo isto naquela manhã de Setembro, uma manhã cheia de ideias e dúvidas para colmatar as certezas daqueles que gostam de insistir em tipologias de autor, velhas fórmulas miméticas gastas e saturadas. Mais informações
aqui.
De resto, as outras conferências e conversas que assisti pareceram-me menos aliciantes, conceitos importantes mas sobejamente conhecidos: desmaterialização, ruído, sistemas de mapeamento da informação, para citar apenas algumas problemáticas evocadas. Infelizmente ainda só tive oportunidade de ver alguns projectos tangenciais mas quando regressar do Rio de Janeiro vou continuar o meu périplo pelas exposições.
:twisted::evil::twisted: Sem comentários, sintomático. xxx mouse
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