Terça-feira, 5 de Setembro de 2006
FESTIVAL FILE_ARTE MÁQUINA_2006

Acabou domingo passado no
Centro Cultural Fiesp o
Festival FILE, Festival Internacional de Linguagem Electrónica de São Paulo. Da exposição de instalações interactivas deste ano gostaria de salientar duas obras,
Tantal de Marcel.lí Antúnez Roca e
Biophilia de Mark Cypher.
A instalação
Tantal é de
Marcel.lí Antúnez Roca (Espanha, 1959). Personagem bem conhecida pelas suas instalações e performances repletas de
sistematurgias (narração interactiva com computadores) e de
dresskeletons (interfaces esqueleto-corpo), segundo o site do festival.
Marcel.lí Antúnez Roca foi um dos fundadores do grupo
La Fura dels Baus tendo trabalhado com a companhia como coordenador artístico, músico e performer de 1979 a 1989.
Tantal propõe um sistema de identificação relacionado com a descrição de personagens onde os espectadores do drama que se desenrola numa rua “qualquer” podem inserir a cabeça num sistema de captação fotográfica e ver a sua cara reproduzida no cenário projectado. A estética
gore muito anos oitenta é acompanhada de um humor corrosivo em que o filme mostra temas da censura actual relacionados com a violência corporal, com a forma do corpo e da sexualidade. As “identidades efémeras” de
Tantal permitem ao espectador gozar de uma identidade passageira e, segundo o texto que acompanha a obra, “seriam aquelas que nos permitiriam viver de maneira passageira uma nova identidade; (…) outra espécie, talvez um insecto, ou, por que não, uma identidade fantástica como a Sereia ou simplesmente outro perfil humano. Essas novas identidades efémeras deveriam trazer novas experiências, e portanto novas formas de conhecimento” onde “os rostos dos usuários da interface se transformam em actores através dos corpos virtuais do filme; o espectador troca o âmbito privado pelo público. As cenas do filme mostram acontecimentos aleatórios, mutáveis, que representam acções às vezes extremas e proibidas, outras grotescas e irónicas”. Neste contexto, podemos através do sistema
Tantal fazer nossa “a dúvida de Hamlet na tragédia de Shakespeare ou nos identificarmos na loucura de Dom Quixote de Cervantes”.
Outra instalação que me chamou a atenção foi
Biophilia de Mark Cypher. Nesta obra, os participantes geram, através dos seus movimentos, formas orgânicas inspiradas pela distorção da sombra destas acções. A ideia é reflectir sobre mitos que envolvem concepções filosóficas sobre a criação das imagens, nomeadamente sobre textos como a
Alegoria da Caverna na
República de Platão. Curiosa é a correspondência do ecrã não ser do tipo
mimesis-imitação (Platão) mas antes do tipo
mimesis-jogo (Aristóteles). Assim, aquilo que vemos projectado tem e não tem correspondência completa com os movimentos do participante, é antes uma distorção a partir destes, uma reprodução que implica reconstrução e improvisação. Esta reprodução pressupõe variação das formas e envolve uma concepção da imagem pela diferença entre aquilo que percepcionamos através dos sentidos (sombras projectadas) e as realidades do mundo físico (imagem produzida pelo corpo próprio no seu ambiente). No texto de apresentação da instalação lê-se: “na instalação
Biophilia, o participante e [a] sua sombra são sintetizados” e reduzidos “a um eco derivativo que contém ambos, “semelhança e ameaça” sendo que a sombra, como manifestação visual dos movimentos do participante no ecrã, reflecte aquele que interage como também integra outros organismos no mesmo sistema. Assim, “
Biophilia tenta fundir o sujeito e o seu ambiente num jogo semiótico e simbiótico de acção e reacção.
Em termos globais (métodos de exposição e obras seleccionadas) achei a exposição de instalações do File 2006 mais fraca que a exposição de 2005 mas o evento de ano para ano sedimenta-se como um lugar de incontornável projecção das artes digitais. Foi com prazer que visionei o DVD do ano passado e relembrei as obras em exposição e os métodos expositivos adoptados na altura. Nomes como
Tim Coe ou
Ricardo Barreto apresentavam o ano passado obras muito mais “vivas” e emocionantes. A temática deste ano “Arte Máquina” acabou enredada, parece-nos, em múltiplos formalismos tecnológicos que reflectem muito pouco a biodiversidade de objectos artísticos na era da Vida Artificial. Achei bastante interessante a incursão por novas áreas temáticas como a
File Mídia Arte e a
File Poesia que reforçam um dos lados mais aliciantes e originais do festival que é a representação de diferentes áreas da produção tecnológica das artes digitais sem se limitar a uma única versão da historia mais "arti". Os jogos electrónicos já tinham entrado em 2004 e 2005 e reflectem bem esta visão polimórfica da cultura e da estética digital. O texto sobre as novas indústrias culturais da América Latina que acompanha, no catálogo, a mostra de jogos seleccionados é curioso e levanta problemas fundamentais.
Looking forward for FILE 2007!
De
rafgouv a 6 de Setembro de 2006 às 15:15
Dá 1 vista de olhos à Chloé Delaume... Acho que já te falei dela.
bjos,
De
mouseland a 7 de Setembro de 2006 às 16:01
Raf,
Já estive a ver o site. Obrigado! Parece recheado de informações para explorar. Os livros agradaram-me.:smile:
xxx rato
De rafgouv a 8 de Setembro de 2006 às 22:42
tem um livro-jogo baseado no cluedo muito giro
De mouse a 9 de Setembro de 2006 às 19:29
hello,
Ai depois desta maratona de escrita vou comprá-lo. Adorava jogar o Cluedo, remember? E recentemente estive a jogar a versão actual ligeiramente alterada nas personagens e afins. Uma delicia! :cool:
xxx mouse
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