Domingo, 15 de Julho de 2007
TRANSFORMERS_CYBERTRON_AUTOBOTS VERSUS DECEPTICONS



O filme
Transformers (2007) de
Michael Bay é muito mau. Não podia deixar de o ver pois afinal este artefacto cinematográfico ao adoptar os robots/brinquedos
Transformers trata de um dos conceitos mais interessantes para explicar a plasticidade da simulação. No entanto, verdade seja dita, o filme não presta. Os robots transformáveis são ET’s que descem à Terra para salvar ou destruir o futuro desta e o enredo mostra-nos que existem
Transformers bons e maus e que é a luta entre ambos que vai definir o futuro do planeta. Robots combatentes lutam para destruir ou salvar os humanos numa narrativa de super heróis onde os adolescentes é que vêem a realidade e têm ferramentas e competências para salvar a Terra. Salvo um corajoso militar musculado e honesto, pai de família que apenas deseja conhecer a filha recém-nascida, os adultos surgem como personagens obtusas que estão ali apenas para atrasar a progressão do salvamento.
Fora dois ou três episódios que normalmente envolvem “batalhas” empolgantes e tecnicamente bem resolvidas nada no filme é estimulante. As personagens são bastante estereotipadas: o guru dos jogos, a especialista em sistemas e o adolescente desajeitado que seduz a miúda mais gira do liceu por meios pouco ortodoxos. Todas estas personagens têm mais ou menos dezasseis anos e só lhes falta um aparelho nos dentes. Os diálogos são de uma pobreza que dá dó. Com um objecto (os robots
Transformers) tão interessante era impossível fazer pior e resta-me apenas dizer que sobre a magia dos robots que se metamorfoseiam de inúmeras formas mais vale o contacto com os brinquedos clássicos, com os desenhos animados ou consultar as teorias sobre a simulação e os
Transformers de
Gonzalo Frasca. Teorias estas, certamente inspiradas pelo artista plástico, também uruguaio,
Torres Garcia. O pintor concebeu um conjunto de brinquedos desmontáveis de madeira após a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) e estes podem ser vistos no
Museu com o seu nome no centro de Montevideo. Uma produção artesanal de madeira incomparavelmente mais inteligente que este filme.
Viva,
O meu nome é Tiago Marques e estou a considerar inscrever-me no mestrado de Sistemas de Comunicação Multimédia da Lusófona, e ao pesquisar no Google dei com este site. Queria saber a tua opinião sobre o mestrado, dado que pelos vistos estás de algum modo ligada ao programa.
Já agora, queria também dizer-te que este blog aparenta estar com alguns problemas técnicos: os links superiores (About, Photos, Contact) não levam a lado nenhum... daí estar a contactar-te via este comment...
Cheers, espero uma resposta para tão breve quanto possas,
Tiago Marques
Olá Tiago, Bem-vindo à mouselândia. Vou enviar-te um e-mail.
xxx mouse
De
rafgouv a 17 de Julho de 2007 às 13:21
:mrgreen: Transformers, mouse??? E eu que pensava que te ias precipitar sobretudo para ir ver as Bratz (http://www.imdb.com/title/tt0417503/) em homenagem à tua velha amiga Tucha...
De
rafgouv a 17 de Julho de 2007 às 13:26
:oops: desculpa Mouse, enganei-me no link:
http://www.imdb.com/title/tt0804452/
Curiosa e ironicamente, o filme é assinado por Sean McNamara, o célebre cirurgião plástico da clínica Troy/ McNamara (Nip/Tuck)
Olá Mouse,
Vi o filme ontem e, ao nível da narrativa concordo plenamente contigo. No geral não fiquei com uma impressão tão má do filme e até gostei dado que é um filme muito virado para a maneira como é feito e não pelo guião que tem. Ao nível da técnica, diga-se, o filme pareceu-me muito bem. Falta-lhe sumo é certo, mas apreciei a maneira como aquele mundo artificial foi criado.
Já agora, dá uma olhada à arte da transformação:
http://pingmag.jp/2007/06/29/transformers
De
nzagalo a 17 de Julho de 2007 às 18:07
Olá
A única coisa que realmente me poderia levar a ver o filme seria mesmo Michael Bay pelas suas extraordinárias capacidades no discurso visual, ainda que centrado nos efeitos, mas utilizando de forma soberba toda a linguagem fílmica para potenciar esses mesmos efeitos.
Quanto aos Transformers, mesmo como série de animação sempre achei o conceito básico e completamente vazio de ideias.
De
rafgouv a 18 de Julho de 2007 às 08:02
Pois, eu voto nzagalo! Tenho curiosidade em ver o filme para apreciar as proezas de Michael Bay mas a pobreza do universo dos Transformers dissuade-me de tal. É espantosa a capacidade da nossa época para transformar qualquer tipo de bugiganga em fétiche marketing. Um assunto que penso desenvolver muito em breve aqui, a propósito da cada vez mais decepcionante carreira de Quentin Tarantino.
:mrgreen::mrgreen::mrgreen:
Olá a todos! Obrigada pelas dicas e sugestões. Essa dos transformers como conceito básico (Nelson) e bugiganga (Rafgouv) parece-me coisa estranha e injusta. Aliás, como bem provam os brinquedos de Torres Garcia, belíssimas obras de madeira manipuláveis e plásticas... Os brinquedos transformáveis são brinquedos que adquirem uma plasticidade imensa. A plasticidade destes objectos (lembro os Lego e todas as estruturas configuráveis) é assunto velho e batido e que está na génese de qualquer manipulação lúdica na mais tenra idade... a manipulação destes "objectos transitórios" (Winnicott) desenvolve a capacidade de gerar significados e sentidos, introduz a simulação como função básica no ser humano... em Buenos Aires vi das mais interessantes exposições sobre o poder do brinquedo gerar novas plasticidades e acho hilariante a ideia de que os transformers são produtos do marketing actual. O conceito em si está na filogenia de qualquer brinquedo!
Por fim, tenho que assinalar que o facto destes brinquedos serem bastante abstractos na forma de manipulação e nas diferentes representações que potenciam faz deles brinquedos bem mais interessantes que a maioria da bonecada (tuchas, barbies, kens) actual pois, como dizia Barthes (Mitologias) e hoje diz Sutton-Smith (Ambiguidade do Jogo), quanto mais realistas as nossas representações ludicas menos desenvolvidas são as nossas sociedades.
xxx mouse
De
rafgouv a 19 de Julho de 2007 às 08:29
Mouse,
Por favô pede aí desculpa ao comité central da bonecada. A minha observação dizia respeito apenas aos Transformers e de forma alguma pretendia pôr em causa as qualidades lúdicas e pedagógicas do conceito de brinquedo transformista...
Não pretendia também questionar o lugar comum (e pelos vistos quase um ortodoxo mandamento) segundo o qual a evolução das sociedades se mede pela sua capacidade de abstracção (God! precisas mesmo de citar o tal Marx Sutton-Smith para dizer isto?)... embora Barthes tenha mais do que contestado tal concepção superficial do realismo (a iconografia "realista" varia segundo as culturas e é mais do que contestável que uma Barbie seja mais "realista" do que um "Transformer", mas isto é outro debate em que Barthes avança muito menos certezas do que tu).
Uma análise Barthesiana dos Transformers não deixaria de os opôr (e não de os equiparar) aos objectos de madeira que citas (a diferença entre plástico e madeira pode-te parecer uma evidência primária mas não deixaria de ser o ponto de partida de uma comparação semiológica)... E não deixaria também de insistir sobre o seu carácter aguçado, pontiagudo, agressivo, bélico, viril, em suma, potente e protésico... Ora, todos estes elementos são elementos que pouco têm que ver com a capacidade de abstracção (ao contrário dos Lego, por exemplo, ou dos Playmobil ou possivelmente dos brinquedos de Torres Garcia que não conheço), muito pelo contrário.
Cada qual os seus fétiches regressivos... É algo inerente às nossas sociedades infantilizantes. Para uns as Barbies, para outros as personagens Disney, os Playmobil ou os Transformers... Establecer uma hierarquia entre os diferentes avatares da ditadura Mattel parece-me ligeiramente grotesco mas como dizia vivemos numa época capaz de transformar uma bosta de carnaval em objecto de culto...
Atónito fico quando a defesa dos brinquedos a que sou imúne é acompanhada de uma recomendação dos "desenhos animados"... produtos derivados que na minha modestissima opinião são literalmente horrendos (a sério: viste mesmo alguns??? e gostas?). Em todo o caso, muito menos interessantes - e menos "plásticos" - do que os genuinos bacamartes de Michael Bay... Ou não terás reparado que por trás do filme Transformers se esconde uma crítica, perversamente ambígua, do carácter regressivo e infantil do mundo em que vivemos (sim, é por isso que os adultos são todos estúpidos)?
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